Quando acontece uma tragédia, como o terremoto que sacudiu o México no último dia 19.09, as principais notícias que aparecem na mídia são sobre mortes, feridos, destruição. Mas existe um lado, que não é muito falado, de reconstrução e solidariedade que sempre aflora em momentos de catástrofes. Esse lado nos mostra que o ser humano é, por essência, mais altruísta do que egoísta. É na catástrofe que vemos que o homem é mais companheiro do que adversário. Mais força do que debilidade. E que juntos somos uma fortaleza.

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Conversamos com Edna Martinez, cientista política e consultora na área da sustentabilidade, que vive na Cidade do México. Ela nos fez um relato emocionado, que chamou de “Crônica de um terremoto anunciado”, em alusão ao livro de Gabriel Garcia Marquez “Crônica de uma Morte Anunciada,” sobre o dia do terremoto e a onda de solidariedade que tomou conta da Cidade do México.

Edna Martinez é uma cientista política mexicana e desenvolvedora do projeto sócio-ambiental chamado Mineralito

Edna Martinez

Edna Martinez começou relembrando o grande terremoto de 8.1 graus na escala Richter (que vai até 9), quando a Cidade do México foi sacudida, em 1985, deixando cerca de 10.000 mortos. No mesmo dia 19 de setembro, o país relembrava, como faz todos os anos, aquela terrível tragédia e foi justamente naquele mesmo dia que a terra voltou a tremer, desta vez em um terremoto de 7.1 graus de intensidade, deixando mais de 300 mortos. 32 anos depois, a história mostrava que os governos não são capazes, sozinhos, de atender as necessidades da população. E que a participação da sociedade civil é imprescindível. Naquele dia, os mexicanos se deram conta, mais uma vez, que cada indivíduo poderia fazer algo diante daquela tragédia imensa. E fizeram.

prédio parcipalmente destruído após terremoto no México

Foto: Edna Martinez

Edna:

“Os primeiros que chegaram aos edifícios que colapsaram foram os cidadãos. Foram os primeiros que se meteram sob os escombros para tirar as vítimas. Recolheram os equipamentos que conseguiam por perto para retirar o entulho.
Aos poucos, foram se incorporando a esse trabalho o Serviço de Proteção Civil e depois,  os militares. Mas durante pelo menos duas horas, o trabalho foi liderado mesmo pela população.

Quando chegaram as equipes especializadas em resgate, os cidadãos continuaram a trabalhar: passaram a levar comida aos bombeiros para que eles tivessem forças para poder continuar o trabalho de remoção de vítimas. Outros organizaram refeitórios para quem havia perdido tudo e não tinha o que comer.

As pessoas (jovens, adultos, idosos) saíram às ruas para ajudar as outras, como fizeram em 1985, mas desta vez existia um elemento novo na história: as redes sociais. A tecnologia foi fundamental para localizar parentes e amigos e depois, foi fundamental para difundir pedidos de ajuda. Durante dias, as redes sociais foram usadas para informar as necessidades específicas de cada região, formando uma rede virtual de solidariedade que se mostrou importantíssima. Muitas pessoas (e empresas) passaram a fornecer seus serviços de forma gratuita: médicos, enfermeiros, psicólogos, engenheiros, arquitetos para revistar a infraestrutura e notários que se ofereceram a trabalhar de graça para repor escrituras perdidas. Todos trabalhando unidos, sem cobrar nada.

cidadãos andando em ruas da cidade do México após terremoto: solidariedade

foto: Edna Martinez

A solidariedade era impressionante, parecia que estávamos fazendo aquilo há anos: trabalho em rede. As pessoas formaram uma cadeia para retirar escombros, para distribuir suprimentos …  Onde se pedia ajuda de uma pessoa, apareciam muitas outras prontas a ajudar.

Sem dúvida, o dia em que voltarmos para a normalidade, se é que existe isso, lembrarei que estou parada ao lado de um herói que esteve removendo escombros para retirar vítimas, de um herói que levou suprimentos a centros de distribuição, um herói que ajudou a coordenar o trânsito quando não haviam policiais nas ruas e os sinais não funcionavam, de um herói que colocou à disposição sua casa, seu carro e seu tempo para levar alimentos e medicamentos quando as autoridades ainda não tinham chegado.

Gostaria de ser governada pelos cidadãos que vi nas ruas desde o dia 19 de setembro, depois do tremor que sacudiu nossa razão, nosso coração e nosso orgulho.”

posto de ajuda na rua da cidade do México após terremoto: solidariedade

foto: Edna Martinez

Obrigada, Edna Martinez. Relatos como esse nos fazem lembrar de que somente juntos vamos conseguir enfrentar os obstáculos que surgem em nossas vida. E que somente unidos somos capazes de mudar o mundo.

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