por Ana Luiza Prudente

O encerramento apoteótico da Olimpíada Rio 2016 só reforçou um saudosismo que já tomava conta das ruas nos últimos dias. Uma saudade não somente dos jogos, mas de um Rio que já parecia não existir mais e que em 16 dias de evento renasceu com toda sua força. Da festa de abertura com o vôo do Santos Dumont sobre a cidade maravilhosa e Gisele Bundchen, linda e cheia de graça, ao encerramento com o carnaval das marchinhas e o sambão que fez atletas, voluntários e autoridades se unirem em uma celebração que não parecia ter fim, a Rio 2016 soube ser mais Rio. O cantor e compositor Gonzaguinha já dizia, “Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão.” O melhor do Brasil é o nosso povo e o cartão postal do Brasil representa melhor que qualquer outra cidade essa nação multi-cultural. É essa diversidade brasileira que encanta o mundo com sua riqueza de raças e costumes que mostrou sua cara e suas diferentes feições. Teve o Brasil do carismático Isaquias Queiroz na canoagem. O atleta nascido na pequena Ubaitaba, Bahia, realizou o feito inédito de ser o primeiro brasileiro a faturar 3 medalhas em uma mesma Olimpíada. A cada prova, Isaquias encarava o desafio de uma maneira impressionantemente tranquila e leve no melhor estilo baiano de ser. Teve o Brasil de Thiago Braz, nascido em Marília, interior de São Paulo, que bateu o recorde olímpico ao saltar 6,03m, conquistando o ouro e a torcida verde e amarela com seu sorriso sincero e emocionado. E ainda teve o Brasil de Rafaela Silva, a judoca nascida e criada na Cidade de Deus, comunidade carente do Rio, que ao vencer a luta pelo primeiro lugar do pódio, chorou as lágrimas de uma campeã da vida. Por essas e por outras, mais do que medalhas, a Rio 2016 fez o brasileiro sentir orgulho de ser brasileiro.  

O jornalista americano Roger Cohen disse, em sua coluna no New York Times, ter ficado cansado de ler só notícias negativas sobre a Olimpíada no Rio, antes e durante o evento. “Primeiro, o Brasil nunca conseguiria terminar as obras a tempo dos jogos, depois foi criticado por não resolver todos seus problemas sociais antes da Olimpíada.”  O fato é que a Rio 2016 foi um sucesso e o investimento feito nos jogos pode, sim, potencializar uma revitalização ainda maior da cidade, trazendo melhorias na qualidade de vida da população em geral. Os mesmos críticos de antes já vêem o Rio de Janeiro como uma segunda Barcelona. A capital catalã, antes de sediar a Olimpíada de 92, estava degradada, muito longe de ser o destino turístico de hoje. A região portuária, tal como o porto carioca, era suja e pobre. Após os jogos, o local se transformou em uma das áreas mais valorizadas da cidade. Barcelona sofreu uma revolução urbana de tal forma que virou a capital cultural da Espanha e um grande pólo de negócios. Essa mudança não se deu em um passe de mágica, mas foi nos jogos olímpicos que tudo começou, tal qual no Rio… 

A maior conquista brasileira na Rio 2016 não veio do pódio, apesar de termos batido o recorde de medalhas de ouro na história da competição. O maior ganho que a cidade sede dos Jogos da XXXI Olimpíada poderá ter é mesmo o legado olímpico que ficará na cidade. As expectativas são as melhores. O Parque Olímpico e o Complexo de Deodoro vão virar Centros Olímpicos de Treinamento (COT). A Arena 3 do Parque Olímpico, onde foram disputadas as provas de taekwondo e esgrima, vai virar uma escola municipal integral para mil alunos, com o esporte tendo um grande destaque. A torcida agora é para que novos campeões surjam a partir destes incentivos.

Para ser um atleta olímpico é necessário muito desejo, disciplina, determinação, investimento, trabalho e tempo. Assim também é para mudar a realidade de uma cidade como o Rio de Janeiro, que há anos sofre com desmando. É um desafio que precisa contar com o envolvimento de todos, não só do poder público, mas também dos cidadãos. Inspiração, não nos falta. Rafaela Silva, Thiago Braz, Isaquias Queiroz são provas vivas e vencedoras do imenso potencial humano que existe em nossa terra brasilis.  Como o saudoso Gonzaguinha, “eu vou no bloco dessa mocidade, que não tá na saudade e constrói a manhã desejada.”