Compartilhar conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade. É essa uma das grandes paixões da publicitária Vania Carvalho, consultora da empresa Ponto de Referência e, ela mesma, uma referência para uma legião de mulheres.
Executiva de grandes empresas durante mais de 30 anos, Vania mudou radicalmente de vida quando saiu do mundo corporativo em meados de 2013. Diante da dificuldade de voltar às multinacionais e já tendo mais de 50 anos, ela se reinventou a partir de um programa de outplacement, uma ferramenta de recursos humanos para ajudar pessoas a se recolocarem no mercado de trabalho. Hoje, Vania dá palestras e workshops, espalhando seu conhecimento em palestras organizadas por grupos como o Coisa de Mulher.etc, criado no final de 2015 para promover ações voltadas para o público feminino.
Depois de passar por uma grande mudança em sua vida, Vania começou a contribuir com a transformação de outras pessoas que valorizam o mesmo que ela: inovação e criatividade. E seu objetivo é fortalecer negócios por meio dos chamados “4R”s: respeito, reputação, relacionamento e resultado.
MT: Como nasceu o seu relacionamento com o Coisa de Mulher?
VC: Nasceu por uma via pessoal há muitos anos, quando eu comecei a fazer consultoria e passei a dar palestras e workshops. Sabia que uma das coisas de que mais gosto é passar adiante o que aprendo.
Este ano, após voltar da maior feira de varejo do mundo, a Retail’s BIG Show, em Nova York, Vania falou para um grupo de cerca de 30 mulheres empreendedoras no espaço Nex Coworking, na Glória, Rio de Janeiro, num workshop chamado “Inspirar para Comprar”.
MT: Você vem de NY com um monte de bagagem cultural e eu te pergunto como aplicar esses conhecimentos aqui no Brasil, em um cenário tão diferente?
VC: Uma das grandes dificuldades é que o Brasil ainda não tem uma cultura de prestação de serviço, a maioria das pessoas aqui não leva isso a sério como deveria levar. Enquanto nos países de primeiro mundo já se tem há muito tempo a consciência de que se eles não trabalharem muito bem a ponta, ou seja, as pessoas envolvidas na entrega da marca, eles estão ferrados, a gente está muito atrasado … mas é possível mudar.
MT: E qual o primeiro passo para isso?
VC: Sem dúvida é a conscientização das lideranças, das pessoas que têm voz dentro das organizações. Sempre se atribui a estagnação à falta de dinheiro, mas não é bem assim. Às vezes os empresários colocam milhões em propaganda, design, novas embalagens, mas não investem nas pessoas. Ainda não caiu a ficha. E esse é um processo muito lento, tanto pela enorme crise pela qual estamos passado quanto por nossa própria cultura.
MT: Em que era estamos vivendo, em termos de mercado?
VC: Estamos vivendo na era do cliente, um novo ser humano que, muitas vezes, pensa que é mais importante o fim do mundo do que o fim do mês. As marcas hoje precisam passar credibilidade, educar, informar, promover sustentabilidade.
MT: Você fala muito em proporcionar experiências.
VC: As pessoas querem isso: viver experiências. E só vai sobreviver quem criar experiências agradáveis, marcantes, inesquecíveis para o consumidor. O consumidor cada vez mais se torna embaixador de marcas. Se o empreendedor não cuidar das pessoas ele não vai para frente. As empresas do primeiro mundo já entenderam que as pessoas estão no centro de tudo.
MT: Na feira em NY, quem aparecia com mais força, o mercado digital ou o físico?
VC: As grandes redes americanas hoje trabalham com o que eles chamam de “figital” – físico e digital. Cada vez mais as coisas estão muito misturadas. As pessoas ainda pesquisam muito no mundo digital e finalizam a compra em lojas físicas. Cada vez é mais raro ver negócios só numa modalidade. A própria Amazon tem loja física hoje em dia, os dois mundos são complementares.
MT: E quem é o grande campeão de vendas?
VC: É quem inspira, quem abre um caminho com o consumidor, escuta o consumidor, motiva ele a promover a marca e agradece. O centro de tudo é estabelecer uma verdadeira conexão humana.
A palestra terminou com um grupo de mulheres superestimuladas a fazerem grandes transformações não somente em seus negócios, mas em suas próprias vidas. E não poderíamos finalizar nossa entrevista com outra pergunta:
MT: Para completar nosso papo com essa grande mudadora, nossa pergunta clássica: o que muda tudo?
VC: Eu acho que é um misto de coisas. Primeiro é você se autoconhecer. Se você se autoconhece, se você se respeita, você sabe aquilo que não quer fazer, sabe o que não te faz feliz, e acaba encontrando um caminho. O segundo é ter fé, que nada tem a ver com religião. Acreditar que se você sabe o que te faz feliz você corre atrás daquilo.
MT: E com tanta gente falando em dificuldades, como é encontrar força para correr atrás do que te faz feliz?
VC: Quando você se abre para as oportunidades e para as pessoas, as coisas acabam acontecendo. Nós duas, por exemplo, não estamos aqui por acaso, não é coincidência. Muda tudo prestar atenção nos detalhes e não deixar as oportunidades bacanas passarem.