Vivemos tempos de polarização política no Brasil, com debates virtuais carregados de emoção e que já levaram amigos e até parentes a romperem relações. O pior de tudo é que não produziram efetivamente nenhuma mudança positiva no país. Está claro que precisamos mudar a forma como debatemos nossas posições políticas. Foi exatamente com este intuito, o de criar um espaço para promover o diálogo de diferentes ideologias, que nasceu em 2014 em São Paulo a Virada Política, um evento anual suprapartidário, gratuito, que reúne artistas, pensadores, empreendedores e ativistas, para discutir inovações na política brasileira.
O Muda Tudo conversou com Bruno Aracaty, co-fundador do colab-re (app que faz a ponte entre o poder público e o cidadão) e um dos organizadores voluntários da Virada Política. Ele contou todos os detalhes do evento que acontece agora em novembro. Dá uma olhada!
MT – Bruno, qual é a sua participação na Virada Política?
BA – Primeiro quero deixar claro que não é uma ação do colab-re, mas minha como cidadão. Tenho participado como panelista desde o primeiro evento e agora passei a fazer parte da organização também.
MT – Quantas pessoas estão envolvidas na realização do evento?
BA – Formamos um grupo de 100 voluntários, além dos criadores e organizadores oficiais (Ana Cossermelli, Carla Mayumi, Duda Alcântara, Diogo Pereira de Menezes, Erika Romay Flores, Giuliano Laurenza, Juliana Dal Pino, Karolina Bergamo, Luís Kimaid, Maisa Diniz, Milena Arbízu, Pedro Kelson, Rafael Maretti, Regina Egger, Ricardo Borges Martins).
Veja também – Voluntários levam Machado de Assis à periferia do Rio!
MT – O Virada pretende mudar o sistema político do Brasil?
BA – Logicamente que a insatisfação com o sistema político do momento existe, mas a agenda do Virada é ter um espaço de diálogo, debate. Este ano, na imersão que a gente fez para o planejamento do evento, um dos participantes trouxe um conceito que é o que a gente abraça bastante, o do oásis. No deserto, mesmo quando as tribos rivais se encontram no oásis, elas não guerreiam lá porque senão acaba tudo.
MT- Como vocês selecionam os participantes e os temas que serão debatidos no evento?
BA – Como é um movimento coletivo, a primeira coisa que a gente faz é abrir inscrições para que iniciativas pequenas participem. Recebemos este ano 80 cadastros. Passada essa etapa, vem o trabalho de montar o quebra-cabeça de uma programação que foi gerada coletivamente e aí a gente vai identificar onde estão as lacunas. Esse painel tem essas duas iniciativas que falam muito pra esse lado aqui, então quem poderia falar pelo outro lado? A gente faz uma lista de pessoas que a gente quer convidar. Tem essa curadoria que é para selecionar as pessoas que se inscreveram e de curar as pessoas que não se inscreveram, mas que são importantes para criar um equilíbrio no debate.
MT – Todo mundo pode fazer parte do debate?
BA – A Virada Política é esse espaço livre, neutro, onde as pessoas de diferentes ideologias podem sentar e discutir e debater. É um pouco da política para além da política institucional. São movimentos, pessoas que já estão lutando por uma questão política e que podem promover esse debate independentemente da instituição. Por exemplo: vai ter um painel sobre drogas aí a gente traz um cara que é a favor da liberação das drogas e alguém que criou uma política pública para o combate das drogas, e ainda um mediador para criar um debate.
MT – E esse ano o Virada Política vai acontecer onde?
BA – Esse ano o negócio expandiu muito … Vai ter Virada em São Paulo, mas também em Recife, no Rio, Santos, Campinas, em São José dos Campos, Brasília, em Belo Horizonte (ano passado já teve na capital mineira). Vão ser quase 80 painéis em dois dias, 5 ou 6 simultâneos, quase 180 iniciativas participando. Então será super denso com muita gente envolvida e convidada e esperamos atrair pessoas que nunca ouviram falar do evento.
MT – Como vocês viabilizam o evento?
BA – É todo financiado coletivamente, não tem dinheiro do governo, nem de partido ou instituição. Nas outras cidades, os coletivos também são formados por voluntários e eles próprios se organizam. Nós passamos o knowhow, preparamos um kit explicando como fazer o evento, desde abrir inscrições até fazer o crowdfunding para levantar fundos. O coletivo de Recife surgiu há 3 meses e já tem 30 pessoas no grupo.
MT – Você nasceu em Recife, uma cidade onde as pessoas são bastante politizadas.
BA – Sim, é verdade. Temos de entender que tudo o que a gente faz é política. A forma como a gente se veste, como a gente come… Tudo no final das contas é política.
A quarta edição do Virada Política vai acontecer nos dias 11 e 12 de novembro em sete cidades simultaneamente: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, São José dos Campos, Campinas, Santos. Em São Paulo, o primeiro dia do evento será realizado na Câmara Municipal e o segundo no Centro Cultural B_arco, e nos Coworkings Civi-co e Impact Hub. Para mais informações, acesse: www.viradapolitica.com.br.