Juraci Maria da Silva, mais conhecida como Dona Jura, é um agente de transformação dentro de Heliópolis, bairro localizado na zona sul de São Paulo que tem a maior favela da capital paulista, com cerca de 100 mil pessoas. Analfabeta até os 17 anos, essa pernambucana chegou ao bairro paulistano no início de sua ocupação e liderou mudanças sociais que fizeram a diferença na vida dos moradores do local. Seu projeto mais recente é a cooperativa de alimentos Ambrosia.
Jura nasceu em Lagoa do Itaengá, Pernambuco. Durante sua infância, não existia escola na região e, desde criança, ela recebeu a tarefa de ajudar a cuidar dos 11 irmãos mais novos. No entanto, ela cresceu inquieta, ansiosa por aprender mais e ultrapassar os limites de sua pequena cidade.
Contra a vontade da mãe, Jura se mudou para o Recife no fim da adolescência e comeu a estudar. Aos 20 anos, foi para São Caetano do Sul, no ABC Paulista, e conseguiu emprego em uma metalúrgica.
Procurando um lugar para começar uma família, Jura comprou um barraco em Heliópolis e chegou decidida a criar ali uma vida digna para si mesma e seus vizinhos. Para isso, travou muitas batalhas, mobilizou moradores e organizações, construiu pontes e oportunidades para muitas pessoas.
E foi para beneficiar mulheres da região que Jura criou a Ambrosia, cooperativa de serviços de alimentação.
Ela conta que nunca gostou de cozinhar, mas percebeu na culinária uma chance de mudança para a comunidade e uso seu poder de articulação para colocar o projeto em pé. Lutou por um curso de gastronomia para o bairro e conseguiu, dando à cooperativa uma chance maior de sucesso.
Hoje a Ambrosia oferece serviços de buffet e catering. Um de seus principais serviços é o fornecimento de merenda para o colégio particular Mater et Magistra. Com o trabalho na cozinha, muitas moradoras de Heliópolis passaram a ter uma renda própria e ganharam a independência.
Para aumentar o alcance de cooperativas como essa, Jura ajudou a fundar a União dos Sabores Solidários, rede atualmente composta por 12 empreendimentos de alimentação na Grande São Paulo e apoiada pela Secretaria Municipal de Trabalho e Empreendedorismo.
A história da Dona Jura já foi registrada pelo Museu da Pessoa de São Paulo no livro Mulheres Que fazem História. Ao livro, Jura diz que seu objetivo de vida é ser multiplicadora. “Eu pretendo levar meu conhecimento para outras pessoas, para outras regiões. A gente não pode ter as coisas só pra nós. Você tem que deixar para os outros”.
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