Janine Rodrigues sempre amou escrever histórias e, desde a infância, a palavra escrita foi a forma que ela escolheu para se comunicar. Quando, ainda criança, queria fazer um pedido especial para a mãe, daqueles que precisam falar diretamente ao coração, adivinha o que ela fazia? Mandava uma cartinha! Era através do papel, só dele, que ela encontrava a coragem necessária para se abrir.
Hoje, Janine faz o caminho inverso e, adulta, escreve histórias para crianças sobre diversidade e inclusão. São temas complexos e delicados, mas tratados com todo o afeto e embalados com arte, educação, muito amor e dedicação. Janine publica seus livros pela Piraporiando, sua própria editora, criada para difundir seu trabalho de forma autônoma.
Apesar de ter o dom da escrita desde muito cedo, Janine demorou a acreditar no seu talento como um possível ganha-pão. A escritora primeiro formou-se em Gestão Ambiental com Especialização Socioambiental pela UFRJ e trabalhou, durante mais de 10 anos, na área ambiental. “Sempre gostei muito de educação ambiental. Não escolarização, mas educação no sentido mais amplo. Na parte de sustentabilidade, sempre gostei de interagir com crianças e adolescentes”, conta.
Enquanto isso, em paralelo, Janine continuava a escrever histórias infantis e, em 2013, decidiu arriscar e publicou seu primeiro livro em sistema de parceria com uma pequena editora. “No Reino de Pirapora” fala de uma menina muito ranzinza, que ficou com marcas de catapora no rosto e passou a sofrer bullying. Para se vingar daqueles que a incomodavam, ela decide proibir todos os brinquedos que não fossem redondos.
“De uma maneira surpreendente, esse livro caiu na graça de algumas escolas”, lembra Janine. “Por coincidência, a temática do bullying estava muito acesa na época. Comecei a receber convites de escolas para participar de rodas de leitura e conversas. Fiquei um ano fazendo essas atividades, os projetos começaram a crescer, e eu percebi que isso podia ser um trabalho, melhor dizendo, meu trabalho principal”.
Nessa rotina, Janine começou a perceber que quem mais vendia seus livros era ela mesma, seja nas atividades com as escolas ou participando de feiras e eventos. “Mas, mesmo assim, eu só ganhava 5% de direito autoral, e percebi que alguma coisa estava errada nesse processo. Comecei a ler muito sobre como publicar livros, esse universo todo, bati em muitas portas e encontrei muita frieza nessa procura da parte das instituições e até de outros escritores”.
Apesar das dificuldades, a escritora deixou o trabalho na área ambiental e, em 2015, criou a Piraporiando, que se apresenta como uma empresa de arte-educação focada na diversidade. Além de publicar seus livros, a empresa desenvolve projetos que contribuam para uma educação antirracista, antibullying e sem preconceitos, tudo por meio da arte.
Nos seus três primeiros anos de atuação, a Piraporiando vendeu cerca de 16 mil livros e, com seus projetos, alcançou 17 mil crianças em 16 estados, além de países como a Colômbia, a Argentina e o Chile. Também recebeu prêmios no Brasil e fora dele e teve o livro “As Duas Bonecas Azuis” transformado em peça teatral.
“Arte-educação é a gente acreditar no quanto a arte é libertadora, reconhecer o poder que a arte tem dentro da educação, e eu acredito que toda escola é também um equipamento cultural”, explica. “A arte fala das nossas capacidades humanas e é muito pessoal, vem de dentro para fora. Uma escola que valoriza o brincar, as atividades artísticas e a cultura dentro do seu ambiente é muito importante porque é um dos momentos mais importantes que a criança tem de dizer quem ela é sem a gente ter que perguntar.”
Para a escritora, tratar de diversidade com as crianças é muito importante, ainda que seja, ao mesmo tempo, dolorido. “É óbvio que somos diferentes uns dos outros, mas, como isso ainda não é respeitado na prática, ainda precisamos falar sobre o óbvio”. Ela também crê que falar sobre diversidade é ajudar a criança a não desenvolver preconceitos. “Preconceito é desconhecimento, é não enxergar riqueza e beleza na cultura do outro”.
Agora Janine Rodrigues está lançando um novo livro, “Onde Está o Boris”, sobre “uma menina zureta das ideias” e um gato curioso que decide escapar. E ainda fará sua estreia como roteirista de uma peça teatral, A Bela Adormecida. Na releitura do clássico de Tchaikovsky, a Bela Adormecida é negra. A estreia da peça acontece dia 6 de julho no Teatro dos Quatro, na Gávea, no Rio.
A peça ainda nem estreou e já está tendo uma grande repercussão nas mídias, mas a escritora carioca afirma que a Piraporiando seguirá sendo seu principal canal de contar histórias e de trabalhar o tema da diversidade racial. “Eu ainda tenho muita histórias para publicar e quero me dedicar 100% a elas”, finaliza. Janine, a sociedade brasileira agradece!
Leia também:
https://mudatudo.com.br/uma-diretora-de-escola-da-o-exemplo-de-como-mudar-a-educacao/