por Ana Luiza Prudente
Quem nunca caiu? Na rua, em casa… na vida? Os tombos, físicos e emocionais, às vezes deixam marcas para sempre, viram cicatrizes no corpo e na alma, mas ainda assim podem ser superados. Na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, a ex-atleta Márcia Malsar ao cair com a tocha, resumiu sem querer a essência do evento esportivo. Quedas acontecem, o que faz a diferença é como nos levantamos e seguimos em frente. Márcia levou uma rasteira grande da vida. Uma paralisia cerebral a condenaria a viver com várias limitações. Mas a doença que afeta o movimento não afetou seu desejo e determinação de ir além e conquistar um ouro nos 200m rasos, prata nos 1.000m cross country, bronze nos 60m rasos em Nova Iorque/1984 e prata nos 100m rasos em Seul/1988. Com suas medalhas, Márcia Malsar ajudou a impulsionar o esporte paralímpico e agora na abertura dos jogos paralímpicos do Rio mostrou toda sua habilidade de como superar desafios. A chuva pode ter tirado seu equilíbrio, mas não a sua força e coragem de seguir em frente. Na mesma rapidez com que caiu, ela se ergueu e sem ajuda retomou sua missão de passar a tocha adiante. Há muito o que aprender com Márcia. Pessoa e atleta extraordinária, dotada de uma capacidade de transformar uma dura realidade em algo espetacular, tal como a linda americana Andy Purdy que nos brindou com um maravilhoso e inesperado pas des deux com o robô industrial. A biamputada, medalhista do snowboard, esbanjou beleza e sensualidade ao dançar primeiro com próteses que simulam pés e depois com as lâminas que usa para competir. Amy até sambou ao som de “Borandá” de Edu Lobo. De arrepiar! Também foi de arrepiar o momento em que meninos e meninas com paralisia cerebral deixaram suas cadeiras de rodas para conduzir a bandeira paralímpica caminhando, graças ao uso de colete e bota especiais amarrados aos corpos de seus pais. As cenas emocionantes se sucederam como uma torrente de lições banhadas pela chuva que caiu no Maracanã. E os sorrisos encharcados dos paratletas lavaram a alma de quem estava no estádio ou assistindo a festa pela televisão. Todos nós, sem exceção, temos alguma deficiência aos olhos dos outros e aos nossos pŕoprios olhos. Mas todos nós, também sem exceção, somos perfeitos do jeito que somos. Nos próximos dias vamos acompanhar milhares de cenas espetaculares que certamente irão mudar a forma de vermos a vida. Cair, levantar e, mais do que seguir em frente, ir além. A extraordinária capacidade de superação dos atletas paralímpicos é desde já o grande legado da Paralimpíada Rio 2016. Bons jogos a todos!