Para proteger a bacia do rio Guandu, responsável por 80% da água consumida na região metropolitana do Rio de Janeiro, cerca de 60 proprietários de terra do interior do estado receberam recursos destinados a preservar as árvores locais, evitando o desmatamento, e para reflorestar áreas já degradadas.

A relação de interdependência entre as árvores e a água é imensa, uma vez que, na natureza, tudo está interligado. O desmatamento, por exemplo, aumenta a erosão do solo e o sedimento gerado acaba por poluir as águas, que têm sua oferta cada vez mais reduzida e a demanda cada vez maior.

Floresta: fundo de água

Para ser ter uma ideia da dimensão do problema, projeções já apontam que, em 2025, daqui a somente 7 anos, 2/3 da população do mundo viverá com dificuldade de acesso a água.

Para enfrentar a escassez iminente desse recurso vital para nossas vidas, foram criados os chamados fundos de água.

mãos segurando água em rio: fundo de água

Foto: TNC

Quando falamos de fundos de água lembramos logo de fundos de investimento. E é por aí mesmo. Fundos de água nada mais são do que a gestão de recursos financeiros, naturais e técnicos, para garantir que haja um estoque de água no futuro. A diferença é que o investimento em um fundo de água não tem um retorno diretamente em dinheiro mas, sim, em economia com a redução do custo de tratamento de água e a garantia de fornecimento desse recurso natural cada vez mais escasso.

Lago com árvores em volta: fundo de água

Os fundos de água são resultado de parcerias entre diversos atores: organizações não governamentais, governos, empresas e sociedade civil. Todos com o objetivo comum de contribuir para a segurança da água, por meio do investimento na proteção e na restauração, principalmente, das bacias hidrográficas, fontes de nossa água doce.

Os fundos de água procuram buscar soluções baseadas na própria natureza. Em alguns países, são implementados modelos de pagamento pelos serviços ambientais prestados por famílias que vivem na parte alta das bacias hidrográficas, cuja atividade incide diretamente na conservação do meio ambiente.

Conseguir estabelecer um fundo de água na cidade colombiana de Villavicencio, tal como existe no rio Guandu, no Rio de Janeiro, é a meta do trabalho da engenheira ambiental Lina Rodriguez.

Lina Rodriguez: por um fundo de água

Lina Rodriguez foto: Bienal de las Americas

Mestre em desenvolvimento sustentável, a colombiana conversou com a gente sobre a realidade colombiana quando o assunto é meio ambiente. Queríamos saber um pouco como é a situação em outro país latino-americano e, assim, comparar com a realidade brasileira.

Muda tudo: Lina, como você vê a Colômbia em relação ao desenvolvimento sustentável?

Lina Rodriguez: A Colômbia é uma potência em termos de água, mas infelizmente as pessoas não são conscientes desse enorme potencial. Nós temos 2 mares, montanhas, rios super caudalosos, uma enorme biodiversidade…  Temos tudo para ser um paraíso, mas a violência nos deixou uma grande marca. No exterior, somos vistos como narcotraficantes e, no nosso país, os ”pesos” (a moeda local) têm mais valor do que água. E é difícil mudar esse panorama, mostrar a potência natural que somos.  É nisso que estamos trabalhando.

Villavicencio, Colômbia - por um fundo de água

Villavicencio, na Colômbia foto: internet

MT: E um fundo de água é essencial?

LR: Eu trabalho para o governo do município de Villavicencio e o meu trabalho é gerir projetos, por exemplo, ligados à pecuária. Só que, para produzirmos, nós precisamos de água. Nossa meta é estabelecer um fundo de água e estamos trabalhando em parceria com a ONG The Nature Conservancy e com o grupo Bienal de las Américas.

MT: Então a solução não envolve somente o governo?

LR: Sob meu ponto de vista, qualquer decisão em busca do equilíbrio entre o social, o econômico e o ambiental tem que ser holística, os esforços não podem ser isolados em termos de desenvolvimento sustentável.

MT: E como é a participação da sociedade civil na preservação do meio ambiente na Colômbia?

LR: É uma participação muito relativa, depende se a pessoa tem recursos para aportar dinheiro de forma altruísta. Quem depende da produtividade da terra para viver, trata de tirar o maior proveito de sua atividade sem seguir todas as normativas. Seguramente se os pequenos produtores tivessem outra opção, atuariam de forma diferente. Aí é onde entramos com diferentes estratégias para conseguir mudanças. As pessoas das áreas rurais são muito receptivas e cada dia pensam mais nas gerações futuras.

MT: Que dicas você dá para que as pessoas ajudem o nosso planeta no dia a dia, como você ajuda.

LR:  É importante saber onde estamos. Por isso eu adoraria que o ordenamento territorial fosse aula nos colégios e universidades, para que cada pessoa tivesse informação sobre o que se pode fazer com nossos recursos naturais. Eu também acho que motivar a curiosidade das pessoas deve fazer parte da política educacional.

MT: E como nasceu seu interesse pelo desenvolvimento sustentável?

LR: Eu sempre pensei na maneira em que a humanidade deveria viver para garantir nossa existência futura. Decidi ser engenheira ambiental para entender melhor a dinâmica do ser humano com o meio ambiente e a nossa grande responsabilidade com o efeito estufa e a maior ameaça que enfrentamos hoje, que é a mudança climática.

MT: Para você, o que muda tudo?

LR: O que muda tudo é a paixão com a qual fazemos as coisas. Pode soar meio ridículo, mas colocar amor no que fazemos no nosso dia a dia faz com que tudo mude.

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