Sustentabilidade é a praia deles, mas com uma pegada corporativa. Os 6 sócios da Gestão Origami  (Bruno Vio, Juarez Campos, Leandro Hoa, Maira del Papa, Paulo Mindlin, Vicente Manzione Filho) vieram da área verde: sempre trabalharam em empresas, consultorias ou ainda no mundo acadêmico. Um belo dia resolveram potencializar suas expertises unindo forças em um único lugar.

Conversamos com Juarez Campos. Não dava para reunir os 6 de uma vez só por conta dos projetos tocados fora da empresa. Mas desde o início, ainda quando nem existia a Gestão Origami, já estava claro que falar com um era falar com todos.

Juarez Campos, sócio-fundador da Gestão Origami. Foto: Luíza Matravolgyi

Juarez Campos: “Cada um de nós tinha um CNPJ. Nos reuníamos (também com alguns parceiros) e resolvíamos o problema da empresa. Qual era o nosso problema? Éramos três pessoas, cada uma com cartão de visitas , um e-mail. Como você apresenta isso para um cliente? O mundo não está preparado ainda para esse tipo de atuação.  Então resolvemos nos fortalecer, nos unir, para dar mais consistência ao nosso trabalho.  Ali foi o Big bang da Gestão Origami.”

Juarez é responsável pelo desenvolvimento de projetos de consultoria e a implementação deles no dia a dia das empresas. Engenheiro de formação, Juarez se empolga ao falar sobre como tudo começou e como o modelo de trabalho adotado pela empresa tem feito a diferença na proposta da sustentabilidade.

Escultura branca em forma de coroa feita de papel origami

Escultura de Origami. Foto Pixabay

JC: “A Gestão Origami foi fundada em 2010.  A questão da sustentabilidade nos unia em torno de um mesmo propósito. Todos tinham uma experiência corporativa ligada a temas sócio-ambientais e isso foi um diferencial nosso naquele momento. Saímos daquele “auê” da sustentabilidade, tipo “vamos mudar o mundo”, para algo mais estruturado. As empresas querem entender como a gente vai fazer isso e então como podemos mostrar a eles? Por meio de planejamento estratégico, evidências, dados… Aí entra o trabalho duro.”

Muda Tudo:  Como é na prática o trabalho da Origami?

JC: A gente entra numa empresa para fazer um projeto de sustentabilidade diretamente ligado ao negócio dela.  Por exemplo, eu estou começando um projeto que vai mobilizar cem artesãos numa região semi-árida no interior do Ceará.  Não vamos fazer programas sociais estamos lá para fazer uma transformação na comunidade com aquele stakeholder (a parte interessada) com o foco na cadeia de valor. Pegue o exemplo do jeans e das empresas de vestuário. A gente vai lá na plantação de algodão e analisa desde a questão do produto químico usado na fibra, até a forma como o trabalhador aplica este produto químico. Ou seja, não estou só olhando o jeans que está sendo vendido. Eu vou na matéria prima, no agricultor que produz, vejo se tem trabalho escravo por lá,  tudo que existe na cadeia de produção até chegar nas fábricas.

A empresa quer que a comunidade onde o fornecedor está inserido seja fortalecida, criando a partir daí cadeias sustentáveis.

 

 

plantação de algodão florido em branco

Plantação de algodão. Foto Pixabay

MT: Vocês são 6 sócios, como é o papel de cada um? Todos se envolvem de ponta a ponta no projeto?

JC: A gente não tem a estrutura tradicional da empresa do século passado. Quando eu falo de adaptar uma tecnologia, desenvolver uma solução para uma empresa que fatura 2 bilhões, não é o estagiário que vai lá para fazer o trabalho. O sócio da Origami responsável pelo respectivo projeto é que vai para o interior do Ceará, como é o meu caso, desenhar o projeto in loco e na semana seguinte vai sentar com o diretor da empresa, o presidente, apresentando a solução. É diferente se eu aloco um trainée. É um trabalho de campo que vai fazer com que você fique 5 dias rodando numa região inóspita. A gente vai para o interior de Goiás, para a Amazônia, onde for necessário, para buscar as informações para o projeto. Isso é uma característica muito forte da gente, o mergulho e aprofundamento na proposta da sustentabilidade.

homem jogando ao longe fertilizante em uma plantação

Foto Pixabay

MT: Que outro projeto de sustentabilidade vocês estão envolvidos no momento?

JC:  Temos um projeto agora em uma empresa de setor de fertilizantes que está desenvolvendo um relacionamento em torno de uma comunidade de 10 mil habitantes no centro-oeste. Então dois sócios estão programando  a logística porque eles vão passar um dia viajando para visitar a cidadezinha de 10 mil habitantes.

Não adianta só pesquisar os dados, saber as informações da cidade, o IDH, educação, etc… Tem que ir lá, respirar, sentir o ar, conversar com as pessoas. É o método Origami. Tem uma folha em branco, onde eu dobro, desdobro. Nossos projetos passam pelo relacionamento de uma empresa com uma comunidade.

MT:  Vocês já conseguiram mudar a operação de uma empresa com algum projeto?

JC: Cada projeto que a gente faz gera uma mudança porque apresentamos para as empresas uma proposta de impacto sustentável muito maior. Imagine uma região sem recursos contar com o apoio para desenvolver um produto a partir do artesanato local é um benefício enorme para as pessoas da comunidade, que ganham uma oportunidade de trabalho. E também para a empresa que ganha em todas as pontas com a proposta sustentável, além de nós da Origami que ganhamos pelo trabalho em si e pelo prazer de contribuir com essa transformação.

MT: E como convencer a empresa a realizar algo que envolva uma abordagem maior como essa?

JC: A empresa sabe que deve se posicionar de forma sustentável, mas ela não tem os elementos para ter certeza do processo de tomada de decisão: o que ela deve fazer e, sobretudo, o que ela não deve fazer. Como abrir mão do que ela está fazendo para priorizar outras ações? E com que velocidade ela vai fazer isso? Não era assim em 2010. As empresas hoje já sabem qual é o desafio, mas a questão é como encará-lo?

MT: Você podar um exemplo de um tipo de desafio?

JC: Por exemplo, fazer o planejamento da estratégia do investimento social privado de uma empresa, ver como ela deve atuar na área de doações e patrocínios à entidades. Ver como a empresa vai mobilizar ONGs, associações, etc, para executar sua estratégia de cunho social.

MT: Vocês perceberam alguma mudança na postura das empresas desde o início do trabalho da Origami até hoje?

JC: Primeiro as empresas não entendiam como trabalhar com o tema sustentabilidade. Elas colocavam as três cestinhas de lixo para mostrar que faziam reciclagem e só. A gente já foi chamada por cliente para apagar um incêndio porque fizeram uma ação “sustentável” na empresa que os próprios funcionários questionaram, “Opa, nós somos sustentáveis? O que é sustentabilidade?” O cliente chamou uma agência de comunicação e ela adesivou tudo com mensagens de reciclagem, mas na essência, não sabia do que estava falando. E o que eles tiveram que fazer? Interromperam no meio a ação de comunicação interna  e contrataram a Origami como pensadores, consultores estratégicos.  A pergunta é: o que eu tenho que fazer para não haver essa dissonância entre a marca, o branding e a ação? Porque a empresa só pode comunicar o que ela é.

Quando a empresa comunica algo que não tem a ver com a sua proposta, o mercado chama de greenwash (lavagem verde). Ou seja, as pessoas percebem que você está fazendo uma maquiagem.

No caso deste cliente, não por maldade, mas por falta de conhecimento, acabou fazendo uma campanha que não deu certo.

4 tonéis de lixo de cores distintas para uso na reciclagem

Foto Pixabay

Muda Tudo: Qual é o balanço que a Gestão Origami faz do trabalho voltado para negócios sustentáveis? É mesmo sustentável?

Juarez Campos:  Ao longo desses 7, 8 anos já fizemos mais de 170 projetos, temos clientes no Brasil todo e em praticamente todos os setores.

MT: E agora? Quais são os próximos passos da Gestão Origami?

Os seis sócios da Gestão Origami posando para foto na cobertura do CIVI-CO.

Equipe Origami no rooftop do CIVI-CO. Da esquerda para direita: Em pé de camisa azul, Vicente Manzione Filho, mais atrás, de camisa cinza, Paulo Mindlin, e na ponta de camisa azul, Bruno Vio. Sentados, Juarez Campos, no meio, Leonardo Hoa e, por fim, a única mulher do time, Maira del Papa. Foto: Luíza Matravolgyi

JC: Agora estamos aproveitando esse momento para oxigenar, por isso estamos aqui no Civi-co. Estamos pensando como é que a gente pode arejar o que fazemos. Pegar aquele conteúdo que está ali dentro do aquário dos 6 sócios e formatar em um produto. Estamos começando a desenhar isso. Pode ser um e-book com temas ligados ao que a gente faz, mas com um conteúdo mais acessível, não tão complexo.

MT: E aqui no Civi-co existe uma troca incrível de conhecimento que pode gerar uma nova proposta de trabalho, né?

JC: Sim, a vinda pra cá já foi uma oxigenação. A proposta do Civi-co faz todo o sentido com a Gestão Origami. A gente tinha um escritório próprio, mas a gente estava ensimesmado. Por mais que a gente rode muito, ainda assim, não tinha uma troca com outros atores, nova economia, economia compartilhada, todos esses temas estão presentes nos nossos projetos, mas é distinto quando estou fazendo isso para um trabalho e quando eu paro, sem um compromisso,  para abrir o leque.  A gente mudou pra cá em dezembro. Hoje fui pegar uma água, conheci o David da RedeDots e em 5 minutos vimos que existia uma sinergia, pois tenho algumas experiências em projetos que podem ser úteis na atual empreitada da RedeDots. O pensamento estratégico que temos na Gestão Origami pode ser um valor no desenvolvimento da startup dele. Já conheci aqui também o pessoal da Bem-te-Vi que faz um trabalho bárbaro.  O meu vizinho ao lado que acabou de mudar é a Transparência Brasil, um tópico que tem tudo a ver para conectar com o mundo corporativo. É um tema que me interessa como sócio da Origami e como pessoa física também. Tem também o Instituto Quintessa ali na frente, a gente já trocou várias figurinhas… Temos a expertise de falar com o mundo corporativo, de pensar estrategicamente e eles têm outras expertises. Isso aqui não nasceu para ser um co-working simplesmente. É para ser muito mais! O próprio Ricardo (Ricardo Podval, CEO do Civi-co) está sempre aqui e  já combinamos um café para estreitar ainda mais nossa relação com o espaço. É só o começo!

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