(por Patricia Salamonde)
Há vezes que mudamos porque queremos. Mas há vezes que mudamos porque somos obrigados a mudar. O empresário Marco Anton sofreu um acidente de moto em 2010, aos 40 e poucos anos, saindo de um clube em São Paulo, depois de treinar na academia. De um minuto para o outro ficou paralítico. Voou dezessete metros e fraturou a coluna. Hoje, 7 anos depois, ele dirige, viaja sozinho a trabalho todas as semanas, esquia com os filhos, dança com a mulher, anda de bicicleta com os amigos, corre maratona …. E o mais importante: é muito feliz.
No ano passado, Marco lançou um site compartilhando sua história, considerada por muitos um exemplo de determinação. Hoje dedica boa parte de seu tempo a dar palestras inspiradoras, como a que comemora os 11 anos do Projeto Saúde Criança Responder, uma associação sem fins lucrativos, que presta assistência a crianças e adolescentes (e suas famílias) atendidos no hospital Miguel Couto e no Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro, ambos no Rio de Janeiro. Na palestra “Superando crenças limitadoras”, Marco convida as pessoas a reinterpretar suas histórias, assumindo as rédeas de suas vidas.
“Se por meio da minha história eu puder influenciar positivamente pelo menos uma pessoa nesta trajetória, eu vou ter alcançado o meu objetivo e vou me sentir realizado”, diz Marco.
A dedicação ao site www.marcoanton.com e as palestras vêm ganhando força ao longo dos anos. O primeiro empurrão, segundo Marco, foi a repercussão do vídeo que gravou para o Hospital Albert Einstein, logo depois da internação – e que até hoje gera muitos comentários. “Hoje eu vejo que eu fiz exatamente o que eu falei lá atrás. A teoria foi igual à prática.”
O segundo pontapé foi uma pergunta que fizeram para ele: se tinha sido difícil reaprender a viver depois da paraplegia. “Quando eu respondi que não tinha sido, ouvi que eu tinha a obrigação de falar isso para o mundo. E é isso que estou fazendo.”
Depois, um amigo insistiu que ele deveria se dedicar a dar palestras e, nos últimos meses, Marco já falou para as mais diversas platéias: para pacientes de hospitais, empresas privadas, ONGs, escolas … Em setembro está agendada a sua primeira palestra internacional: na Alemanha. “Esta vai ser a mais desafiadora, porque vai ser em alemão!”, brinca Marco, que fala o idioma fluentemente.
Uma das mais palestras mais motivantes, segundo ele, foi em uma comunidade no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. “Foi incrível trocar experiências com pessoas que têm fortes problemas com drogas e com violência. O que foi muito interessante naquela palestra foi o fato de muitas pessoas se sentirem injustiçadas, seja pela sua condição financeira ou social. Eu poderia me sentir injustiçado pela minha condição física. Todos temos livre arbítrio para fazermos nossas escolhas independentemente de nossas condições. No caso daquelas pessoas, justificar más escolhas com base na condição delas seria afastar ainda mais eventuais conquistas “
Entrevistamos o Marco no Rio, para onde viaja semanalmente, vindo de São Paulo, onde mora. Comemos pizza, tomamos vinho, conversamos horas a fio, rimos muito. A cadeira de rodas não apareceu em nenhum momento, apesar de fisicamente estar lá. É um homem completo, que se desloca para um lado e para o outro, como as outras pessoas presentes. E por que haveria de ser diferente?
“A última coisa que eu quero é o rótulo de deficiente. Eu me comporto como um não-cadeirante. No meu caso, a minha independência é uma decisão. É uma escolha. Se você me perguntar de onde vem essa força, eu não tenho a menor ideia. Mas tudo dependia de mim, principalmente a possibilidade de a minha família ficar unida… Eu tinha uma enorme responsabilidade e tinha que dar um exemplo claro e rápido.”
Uma semana depois do acidente, na cama do hospital, Marco voltou a trabalhar via computador. 4 meses mais tarde, estava na Alemanha, com a mulher e os 4 filhos.
“Não tem como parar. Eu decidi me virar e fazer tudo o que eu fazia. Com ousadia, sem medo. Eu acho que muitas vezes a limitação é imposta por nós mesmos.”
Marco, economista, impressiona pelo pragmatismo. Na primeira sessão depois do acidente, a fisioterapeuta perguntou: “Marco, qual o seu objetivo?” E ele rapidamente respondeu: “Passar do deitado ao sentado.” A resposta surpreendeu. Na maioria das vezes o paciente responde que quer voltar a andar. “O que eu fiz foi dividir objetivos audaciosos em vários menores. Eu precisava ter uma meta. Agressiva e com data marcada.”, completa.
Quando perguntamos sobre a tecnologia para ajudar a vida de um deficiente físico, ele diz que não há nada muito revolucionário ainda. Existem, sim, projetos em desenvolvimento. Por exemplo, o exoesqueleto, uma roupa robótica, que se comunica com o cérebro a partir de sensores na cabeça do paciente – e que foi apresentado na abertura da Copa do Mundo de 2014, com o chute simbólico dado por um paraplégico em uma bola de futebol.
Desde março de 2016, Marco faz parte da equipe de voluntários que participam dos testes liderados pelo criador do projeto “Andar de Novo”, ou “Walk Again”, do neurocientista Miguel Nicolelis. O objetivo das pesquisas do médico é desenvolver uma tecnologia capaz de fazer com que pessoas com mobilidade restringida voltem a andar por meio de ações controladas pelo cérebro. Segundo Nicolelis, o exoesqueleto é a materialização tecnológica mais avançada do desenvolvimento da interface cérebro-máquina.
“O projeto é realmente espetacular. O nível de tecnologia é surreal e o comprometimento da equipe com a pesquisa, impressionante. É um privilégio poder participar de um projeto de vanguarda, que usa recursos de dezenas de laboratórios do mundo todo.”
Marco participa do projeto duas vezes por semana. Nos outros três dias, viaja para o Rio a trabalho e sempre que pode escapa para curtir a vida com a família e os amigos. Esquiar já voltou a fazer parte da sua vida.
“Eu acredito que, embora não consigamos controlar todos os aspectos das nossas vidas, temos o poder e a capacidade de nos prepararmos para as mudanças que vêm pela frente. Ou, melhor ainda, usar esta capacidade para promover as mudanças que nós queremos que aconteçam.”, diz Marco. “Estar forte e saudável é condição determinante para estar pronto para quando novas tecnologias aparecerem.”
Quanto ao lado sentimental, a mudança também foi grande após o acidente. “Hoje eu sou mais emotivo, mais sensível, mais humano, menos racional. Com o site eu pretendo mostrar a incrível força e efeito que o amor, o carinho e a bondade têm sobre as pessoas, principalmente sobre mim, uma vez que tenho recebido tudo isso em abundância.”
Depois de falar muito sobre a mudança na vida dele, partimos para o assunto “MUDA TUDO”. E lá se vão mais horas de aprendizado… “Eu não aguento mais ver as pessoas dizendo que está tudo ruim. Eu, como vocês, quero levar algo positivo para as pessoas, escrever coisas boas. Quando a gente está perto de pessoas engajadas, nos sentimos estimulados. De repente a gente vê uma sociedade que se transforma e se contagia. O jornalismo de hoje não energiza, só drena.”
Marco descobriu a maneira de contagiar positivamente quem está ao seu lado. De palco em palco, vem mostrando a capacidade que o indivíduo tem de contagiar positivamente quem está ao seu lado.
“Eu acho que as pessoas precisam ser protagonistas. Não podem ficar passivas, resmungando; precisa sair da inércia e tomar atitude, iniciativa. Se você não agir, não tem mudança nenhuma. A partir do momento que você decide mudar, MUDA TUDO.”
Links:
O vídeo do Albert Eistein: https://www.youtube.com/watch?v=4AImrLexJGI
O site: http://marcoanton.com
O neurocientista:http://www.nicolelislab.net