A mais importante coreógrafa do Brasil, com trabalhos envolvendo a direção de um show do Cirque du Soleil e a abertura da Olimpíada do Rio, Deborah Colker se inspirou no poema “Cão Sem Plumas”, escrito em 1953 por João Cabral de Melo Neto, para lançar o espetáculo homônimo que conjuga dança, cinema e poesia num mesmo palco.
O poema, que retrata a pobreza que atinge as comunidades que vivem às margens do rio Capibaribe, no estado de Pernambuco, é visto hoje como um alerta ao descaso com o qual o rio era tratado. Agora, 60 anos depois, a peça volta a levantar a bandeira da conscientização ambiental – uma luta que infelizmente se faz necessária, tendo em vista o atual estado de poluição em que o rio se encontra.
Para quem assiste ao espetáculo, a experiência é forte. Dançarinos sujos de lama interagem com imagens de um filme gravado em uma viagem da companhia pelo Nordeste, o que faz com que palco e tela soem como se fossem um só. Abaixo uma parte selecionada do poema:
“Na paisagem do rio difícil é saber onde começa o rio; onde a lama começa do rio; onde a terra
começa da lama; onde o homem, onde a pele começa da lama; onde começa o homem naquele homem”.