A figura de um oásis foi a inspiração usada para o tema da Virada Política deste ano. E os organizadores não poderiam ter escolhido melhor imagem para representar a 4ª edição do evento suprapartidário criado em 2014 por um coletivo de jovens em São Paulo. Este ano, o Virada foi realizado nos dias 11 e 12 de novembro e pela primeira vez aconteceu simultaneamente em outras 7 cidades brasileiras. O Muda Tudo acompanhou o evento na capital paulista e a sensação nos dois dias de debates foi mesmo de estar em um paraíso de ideias em meio ao deserto político do país.
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No sábado, a Câmara Municipal de São Paulo foi o palco escolhido para discutir as inovações na política brasileira. Difícil era escolher qual painel assistir. Na parte da manhã, o tema Renovação Eleitoral foi destaque no auditório externo reunindo movimentos como Agora!, Acredito, Bancada Ativista, Brasil 21, Renova e Vem Pra Rua.
Depois do almoço, o assunto “Como os dados influenciam Políticas Públicas,” dominou a sala Oscar Pedroso Horta. O vereador do PV de Mogi das Cruzes, Caio Cunha, mostrou como conseguiu se eleger com pouco mais de 2 mil reais investidos em uma campanha nas mídias sociais. Caio abriu sua apresentação com a frase, “O Brasil tem jeito.” Com formação em TI, ele entrou para a política para empoderar a sociedade civil através do engajamento do cidadão na gestão do município. Caio criou o mandato colaborativo formado por uma rede de pessoas (Somos 300) com representantes de vários setores da sociedade que, como ele diz, cocriam a política.
No domingo, foi a vez do bairro de Pinheiros receber o Virada. As palestras, oficinas e rodas de conversas aconteceram em 3 lugares que ocupam uma rua sem saída em Pinheiros, a Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, e que pulsam inovação: o Centro Cultural B_arco, o Coworking Impact Hub e o Civi-co, espaço para empreendedores cívico-sociais.
Temas polêmicos foram debatidos de forma construtiva, com o cuidado de preservar o oásis das ideias.”Existe Liberdade de Expressão na internet?,” “Brasil em reformas, como as reformas previdenciária, trabalhista e tributária impactam o desenvolvimento do país,” “Situação Política atual do país: polarização, discurso antipolítico e perspectivas para 2018” foram alguns dos assuntos abordados nos painéis do dia.
A professora da rede de ensino estadual, Paula Litcha, foi uma das pessoas mais participativas do evento. Ligada a movimentos sociais, Paula questionou de forma incisiva vários palestrantes, recebendo aplausos da plateia e até uma mea- culpa do economista André Perfeito, moderador do painel “Brasil em Reformas.” Paula pontuou a falta de representatividade no painel formado somente por homens brancos e do mundo acadêmico. “Quero ver mulheres, negros, trabalhadores discutindo os rumos econômicos do país.” André agradeceu pelo “tapa na cara,” dado pela professora. Após o debate, Paula confessou que apesar de faltar representantes da classe trabalhadora , movimentos de esquerda como o MST, o Virada se mostrou um evento mais plural comparado com os que ela costuma participar. Ela também reconheceu o ambiente acolhedor dos debates, com pessoas preocupadas em buscar saídas para a política e não em fazer valer suas razões pessoais.
O baiano José Carlos Queiroz de Santana, autor do Blog do JC, também disse que gostaria de ver uma maior representatividade negra em um evento que discute mudanças políticas no Brasil. Ainda assim, o saldo do Virada para ele também foi bem positivo pelo fato de ter havido um clima harmonioso nos debates.
O Virada Política atraiu um público diverso e bastante participativo.
O auditório do Civi-co recebeu várias palestras e oficinas.
No pátio do Impact Hub, foram montadas tendas com comidas típicas feitas por refugiados.