Dizem que as águas de março são as mais violentas do ano e provocam as maiores enchentes no Brasil. Mas este ano, foi em abril que o Rio de Janeiro viveu sua maior tragédia do ano, provocada pela chuva. Bueiros entupidos, desvio de curso de rios, desmatamento,  descaso do poder público, mudanças climáticas. As causas apontadas para a devastação provocada são as mais diversas. E provavelmente, a mais certeira é a combinação de todas elas.

Casa no Horto, zona sul do Rio de Janeiro, dias após o temporal de 8 de abril

Casa no Horto, zona sul do Rio de Janeiro, dias após o temporal de 8 de abril

Nesse cenário, vale ressaltar as inúmeras iniciativas para ajudar as vítimas das enchentes. Uma onda de empatia tomou conta do Rio. São muitos grupos de ajuda, cada um fazendo o que pode: limpeza de casas invadidas pela lama, arrecadação de dinheiro para compra de produtos de limpeza, comida, …, doações de roupas, toalhas, lençóis, móveis …

A ajuda de todos é essencial.  Assim como a consciência de que temos de agir de forma preventiva para minimizar o impacto que as chuvas têm nos meios urbanos.

Chuva destrói casas no Horto, zona sul do Rio de Janeiro

Chuva destrói casas no Horto, zona sul do Rio de Janeiro

Muitas ações preventivas estão relacionadas ao cuidado com o lixo. O acúmulo de resíduos nos bueiros e nas galerias subterrâneas, vindo do descarte irregular de lixo nas ruas, terrenos, e córregos das cidades, prejudica o escoamento da água.

Veja abaixo algumas medidas que podem contribuir para evitar as enchentes. Algumas delas e você pode adotar na sua vida, ou cobrar do seu vizinho e do poder público da sua cidade.

Solução tecnológica: bueiros inteligentes

Garantir a limpeza dos bueiros é fundamental para diminuir o impacto das chuvas e a ocorrência de enchentes nas grandes cidades. E a tecnologia pode ser aliada dos governos para realizar essa manutenção de forma mais inteligente e eficiente.

Uma das empresas que trabalham para facilitar esse processo é a  Net Sensors,  criada em 2016, com sede no Rio de Janeiro. A empresa desenvolveu um sistema que inclui um cesto coletor, instalado no bueiro, com um sensor volumétrico que emite um aviso quando existe acúmulo de  resíduos. Um aplicativo é usado para registrar por foto a situação atual do bueiro. Essas imagens e o sinal do sensor são enviados para uma plataforma de telegestão para que os responsáveis pela manutenção enviem uma equipe para realizar a limpeza.

Foto de um bueiro inteligente: Net Sensors

Foto de um bueiro inteligente: Net Sensors

“A nossa ideia surgiu da indignação de ver recorrentemente as cidades sofrerem com inundações e alagamentos, muitas vezes ocasionados pelo entupimento de bueiros. Pesquisando sobre o assunto, percebi a existência de diversas soluções para o lixo residencial, hospitalar, industrial, da construção civil, porém nada sobre os resíduos depositados em bueiros. A partir daí,  investimos em tecnologia, realizamos testes, até chegarmos a inédita e comprovada solução que temos atualmente,” diz o CEO da empresa, Carlos Chiaradia.

Carlos conta que o sistema já foi testado e aprovado em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, São José dos Campos, Belo Horizonte, entre outras. O Rio  foi a primeira a contratar a solução dos bueiros inteligentes,  com previsão de instalação de 5.000 deles em áreas onde ocorrem constantes alagamentos. Os estudos para a instalação já estão quase prontos.

Foto: Net Sensors

Foto: Net Sensors

“Nossos principais clientes são prefeituras e empresas privadas contratadas pelas prefeituras para efetuarem a limpeza pública.  O custo de cada bueiro inteligente varia entre R$ 90,00 e R$ 180,00, dependendo do volume, tamanho e prazo contratual”,  explica Carlos.

A busca por novas soluções para solucionar o tema de gestão de resíduos é uma das respostas à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A lei de número 12.305/10 foi sancionada em 2010 para organizar a gestão de resíduos no país, fazendo com que os órgãos públicos  busquem soluções mais eficazes para o problema.

Recentemente, a empresa fechou uma parceria com o site de meteorologia Climatempo para disponibilizar, por meio de sua plataforma de telegestão, um pacote de serviços que incluem: mapa de vulnerabilidade (áreas críticas), previsão de probabilidade de chuva (alta/média/baixa) por ponto de bueiro instalado, previsão de risco de alagamento, informações colaborativas sobre áreas de alagamentos e histórico de chuvas. O serviço entrará em vigor junto com a instalação dos bueiros e as informações vão poder ser acessadas pelas equipes de gestão de limpeza das prefeituras.

A prefeitura do Rio de Janeiro tinha previsto a instalação dos bueiros inteligentes para o inicio de abril. Mas para a implementação da solução era necessário um trabalho prévio de identificação da melhor cobertura celular, pontos críticos, etc. A instalação deve começar ainda nas próximas semanas.

Site Climatempo (printscreen)

Site Climatempo (printscreen)

“Dessa forma colaboramos com as equipes de limpeza, que sendo alertadas com antecedência sobre risco de chuvas fortes em pontos específicos, podem se deslocar pontualmente evitando eventuais entupimentos/alagamentos. As limpezas de bueiros e/ou bocas de lobo são 15 vezes mais rápidas do que o sistema atual, proporcionando redução de 50% do custo operacional da limpeza, além de promover a reciclabilidade dos resíduos coletados, “completa Carlos.

 A participação de cada um na hora da coleta

Enquanto soluções tecnológicas, como os bueiros inteligentes, não conquistam cada rua das grandes cidades, a ação de cada indivíduo faz uma grande diferença. E respeitar a agenda da coleta é muito importante.

É fundamental colocar os resíduos para fora de casa ou comércio apenas no horário determinado. Quando os sacos são colocados nas calçadas em horários irregulares, eles podem ser arrastados pelas chuvas. E aí, podem entupir bueiros e outras saídas para escoamento da água.

Coleta de lixo Foto: Pixabay

Coleta de lixo Foto: Pixabay

Por isso, consulte o serviço de coleta da sua cidade para saber os dias e horários em que deve retirar o lixo de casa. E mais: exija que o cronograma seja respeitado. Fora isso, se perceber que seu vizinho não está fazendo o mesmo, explique as consequências de seu ato e sirva de agente de mudança no seu bairro.

Menos lixo: um desafio real e virtual

Diminuir a quantidade de detritos jogados no chão das cidades também é uma ação eficiente na equação de lixo e enchentes.

Post que viralizou o "Desafio do lixo". Foto Reprodução

Post que viralizou o “Desafio do lixo”. Foto Reprodução

Para conscientizar as pessoas sobre esse problema, uma campanha nas redes sociais propôs a pessoas do mundo todo o chamado “Desafio do Lixo”. O desafio era escolher uma área de sua região que estivesse com lixo acumulado. Escolhido o local, era hora de fazer a limpeza pessoalmente, registrando o antes e depois nas redes sociais.

O desafio engajou pessoas de vários países, que postaram suas fotos usando a hashtag #trashtag. Já são mais de 70.000 postagens mostrando pessoas limpando praias, estradas e florestas. Serviu de inspiração.

As chuvas de abril mostraram que, se queremos mudar, precisamos agir rapidamente. E precisamos agir de forma coletiva: #issomudatudo

Nota: Se você quer ajudar as pessoas que perderam suas casas nas enchentes no Rio e não sabe como, entre com contato com a gente: contato@mudatudo.com.br

Veja mais sobre lixo no Muda Tudo:

https://mudatudo.com.br/familia-produz-zero-lixo-ha-dez-anos/