Um dos maiores desafios durante a pandemia do coronavírus é manter o isolamento social. No Brasil, o trabalho informal é a realidade de uma imensa população, que não tem poupança e precisa sair de casa todos os dias para gerar renda.

Diante deste cenário, há iniciativas para que esses trabalhadores informais também consigam fazer home office, mesmo em comunidades, de forma a manter o necessário distanciamento social e evitar a propagação da Covid-19.

“Logo no começo da pandemia, a gente entendeu a necessidade do isolamento social. Mas sem capital de giro, sem feiras para vender nossos produtos, ficava muito difícil ficar em casa, sem gerar renda. Então a gente decidiu ligar para todas as empresas que a gente tem algum contato e pedir ajuda. Deu certo.“

Quem diz isso é Suéli do Socorro, cofundadora do projeto Costurando Sonhos Brasil e que criou recentemente o Home Office das Costureiras das Comunidades do Brasil. Em dois meses, o novo projeto já tem 68 pessoas trabalhando e gerando renda, a maioria mulheres. O grupo já produziu 32.000 máscaras de tecido.

Costurando Sonhos

Instagram: Costurando Sonhos

Uma boa história merece ser contada do começo: com a criação da Costurando Sonhos

A Costurando Sonhos foi fundada em 2017 para promover, por meio do corte e costura, o empoderamento de mulheres em situação de vulnerabilidade, muitas vezes vítimas de violência doméstica. A ONG usa a moda como vetor de transformação social.

A fundadora da ONG é a técnica em contabilidade paraense Suéli, nascida na ilha de Marajó. Há 5 anos, Suéli foi a Paraisópolis, a segunda maior comunidade de São Paulo (depois de Heliópolis), para ajudar Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores e Comerciantes. Gilson precisava de auxílio na área de projetos. Um ano depois, Suéli passou a fazer a parte administrativa-financeira do convênio entre a União de Moradores com a Prefeitura de São Paulo, o SASF – Serviço de Assistência Social à Família.

 

fundadoras da Costurando Sonhos

Costurando Sonhos Foto: Cleiby Trevisan

Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, tem mais de 100 mil habitantes.

Suéli conta que um dia chegou à União de Moradores uma jovem com um bebê de cerca de 4 meses no colo. Ela tinha apanhado do marido e o bebê, que estava com ela, também sofreu agressões.

“Foi ali que eu vi que precisava fazer alguma coisa, que eu tinha como contribuir para essa causa. Hoje eu sou apaixonado pelo trabalho social, principalmente com mulheres.“

Costurando Sonhos

Instagram: Costurando Sonhos

A Costurando Sonhos tem uma equipe fixa de 8 pessoas e já atende cerca de 1.000 famílias na comunidade. O projeto tem dois espaços, um deles é uma sala de capacitação que foi montada com a ajuda do Senai, com equipamentos em comodato. É o Senai que dá a certificação para as costureiras e até agora 100 mulheres já foram capacitadas. A outra sala funciona dentro da União dos Moradores. Suéli conta que a Enel, distribuidora de energia em São Paulo, e a Sodexo foram duas empresas de extrema importância para o projeto. (outras grandes empresas que apoiam são Nestlé, Atados, Volvo, Globo…)

“A gente participou de um edital da Enel e firmamos um convênio de geração de renda. Da Sodexo nós ganhamos um prêmio que vale por 3 anos. É um convênio de capacitação”, diz Suéli, que trabalha com uma sócia e cofundadora da Costurando Sonhos, a advogada Maria Nilde, 52 anos, maranhense, moradora de Paraisópolis há quase 20 anos.

Suéli e Maria, cofundadoras da Costurando Sonhos

Suéli e Maria, cofundadoras do Costurando Sonhos

Em março … a pandemia. E agora?

Suéli conta que quando a pandemia atingiu o Brasil, diversas empresas precisaram cancelar seus pedidos de ecobags, primeiro produto da Costurando Sonhos a ser oferecido para o mercado.

“Mas o Banco Santander, por exemplo, que já era um parceiro, manteve um contrato importante para a produção de ecobags. Para dar conta do pedido, as costureiras da ONG levaram as máquinas emprestadas para suas casas. Foi aí que surgiu a ideia do Home Office das Costureiras, para atender a demanda de máscaras de tecido que surgia no mercado.”

O primeiro passo foi abrir um cadastro para mulheres que se encaixavam no perfil – de ter perdido seus empregos ou de serem autônomas e estarem sem geração de renda.

Suéli explica que o valor pago por costura de máscara no mercado varia entre 25 e 40 centavos e que elas decidiram pagar um valor diferenciado, de 1 real.

“ Isso começou a se espalhar no boca a boca e no Facebook.”

Em pouco tempo, o grupo tinha 68 pessoas produzindo a partir de suas casas. A sala de capacitação, fechada por causa do isolamento social, se transformou em centro de distribuição.

“Nós já fizemos 32 mil máscaras em dois meses, sendo 12.000 para doações. Nossa capacidade é de 5.000 máscaras por semana.”

As máscaras são encomendadas por empresas parceiras. A Costurando Sonhos compra o material, faz os kits de costura e entrega para as costureiras, que devolvem as máscaras prontas em uma semana.

“Por exemplo, a Enel nos contratou para fazer 2.000 máscaras que foram doadas para pessoas na comunidade. Várias empresas fazem isso.”

Uma pedra no caminho: a falta de máquina de costura em casa e a solução vinda da iniciativa privada

A parceria com a Philco veio na hora certa. A empresa doou 50 máquinas de costura e 50 ferros de passar e, com isso, o projeto poderá ser ampliado para 120 pessoas, em várias comunidades: Heliópolis, Vila Valquíria, Vila Sonia…

“As encomendas que temos não dá para dar trabalho para todo mundo, então a gente precisa de serviço. Quanto mais melhor!”

Foto: Cleiby Trevisan

“O que muda tudo é oportunidade … e incentivo. Essas mulheres estavam em casa, sem renda, e as mulheres precisam ter renda. Eu acredito que isso é empoderamento de verdade, você dar renda. Não existe empoderamento sem dinheiro na carteira. Essas máquinas de costura, com certeza, mudam tudo. Temos relatos incríveis, de mulheres que tinham o sonho desde criança de ter uma máquina e nunca conseguiram economizar R$1.000 para isso. A oportunidade muda tudo!“

costureiras recebem máquina de doação

Instagram Costurando Sonhos

 Como ajudar?

Existem diversas maneiras de ajudar. Uma delas é doando tecidos, tricoline 100% algodão. Outra forma é contribuir financeiramente com a campanha de crowdfunding/vaquinha no link do site  www.esolidar.com  E claro, contratando os serviços das costureiras.

“O preço da máscara depende da quantidade do pedido. A partir de 1.000 unidades sai por R$6,10, uma máscara em tricoline com camada dupla”, diz Suéli.

QR Code para doação no Esolidar

QR Code para doações na Esolidar

Contato:

costurandosonhos@paraisopolis.org

Whatsapp (11) 94506-7710 

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