O chef italiano Massimo Bottura, dono do restaurante Osteria Francescana, considerado o melhor do mundo este ano pela revista britânica Restaurant, acaba de inaugurar um refeitório popular no Rio de Janeiro. A proposta da iniciativa é usar ingredientes do Parque Olímpico e da Vila Olímpica que seriam descartados e, somente com esse excedente, conseguir alimentar 5.000 pessoas carentes.
O refeitório tem 108 lugares distribuídos em mesas comunitárias e se chama RefettoRio Gastromotiva, pois trata-se de uma parceria de Bottura com a ONG brasileira Gastromotiva, liderada pelo chef curitibano David Hertz.
O local funciona na Rua da Lapa 108, no centro da cidade, em um terreno cedido pela prefeitura do Rio. O projeto conta ainda com outros parceiros de peso, como a jornalista Alexandra Forbes, os irmãos Campana, que desenvolveram o mobiliário para o refeitório, e Vik Muniz, que ajudou na cenografia.
Além de alimentar a população mais pobre do Rio, o projeto quer chamar a atenção para o enorme desperdício de comida no mundo, que gira em torno de um terço de todo o alimento produzido no planeta.
Com o término das Olimpíadas e das Paraolimpíadas, o espaço será entregue a cozinheiros locais e seguirá funcionando de uma forma um pouco diferente e muito criativa: no horário de almoço a refeição será cobrada e, à noite, o jantar será gratuito para atender aos mais necessitados. Com essa equação, os idealizadores do projeto vão conseguir que os clientes pagantes da hora do almoço ajudem a bancar o jantar de quem não pode pagar.
Além das refeições, o RefettoRio vai oferecer cursos sobre aproveitamento de alimentos, aulas de culinária e treinamento profissional para jovens de comunidades carentes.
MASSIMO BOTTURA
Massimo Bottura, de 53 anos, nasceu em Módena, na Itália, onde em 1995 abriu seu restaurante Osteria Francescana. Além de comandar o melhor restaurante do mundo, ele é diretor da fundação Food for Soul (Comida para a Alma), que trabalha para a conscientização em relação ao desperdício e à fome no mundo, incentivando mudanças na forma como a sociedade lida com os alimentos. No ano passado, ele criou o primeiro refeitório popular, que inspirou o projeto carioca. O Reffetorio Ambrosiano nasceu para aproveitar os restos de alimentos da Expo Milão. E Bottura já tem planos para um terceiro projeto, desta vez em Turim, também na Itália.
GASTROMOTIVA
O braço brasileiro do projeto é a Gastromotiva, organização não-governamental que usa a gastronomia como ferramenta de transformação e inclusão social. O carro-chefe da ONG é a escola de capacitação em cozinha, destinada a jovens de baixa renda entre 18 e 35 anos.
A Gastromotiva acredita na educação como a chave da mudança social no país. Segundo o fundador David Hertz, não é só ensinar a cozinhar. É preciso melhorar a autoestima dos alunos, mostrando que eles podem melhorar de vida e ajudar outros a fazerem o mesmo. Por isso, os cursos incluem técnicas culinárias, aulas sobre cidadania, postura de trabalho, higiene, alimentação saudável e por aí vai.
A Gastromotiva começou a atuar em 2006, em São Paulo. Em 2013 abriu filial no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, em Salvador. Além do curso de capacitação em cozinha para pessoas que precisam de oporunidades para crescer, a ONG realiza uma série de trabalhos ligados à Gastronomia Social, um movimento que acredita no poder da gastronomia como agente de transformação social. O diretor destaca a importância de mexer em todos os pontos da cadeia de alimentação, por exemplo, ensinar criancas sobre a importância de consumir alimentos saudáveis e produtores a usar novas técnicas de plantio orgânico.
Além de formar os alunos, David Hertz consegue garantir muitas vagas de trabalho. O chef procura donos de restaurantes e propõe uma parceria “ganha-ganha”: ele capacita pessoal para trabalhar para esses empresários e, em troca, eles colaboram financeiramente com o projeto, por meio do pagamento de uma taxa mensal.
Depois do término do curso, muitos alunos da organização levam seus conhecimentos a comunidades carentes, aumentando seu conhecimento e criando um efeito multiplicador. Segundo dados da Gastromotiva, desde sua criação, 65.000 pessoas foram impactadas com os projetos do TAC – Trabalho de Ação nas Comunidades.
Outro projeto da ONG é um curso de capacitação dentro de presídios, para ajudar pessoas a se reinserir na sociedade. O projeto piloto foi realizado no presídio Adriano Marrey, em Guarulhos, São Paulo, em 2010. Em 2013, outro curso foi realizado na penitenciária feminina de Sant’ana, em São Paulo. Um dos professores do curso para detentos foi o renomado chef Alex Atala.
Para seguir crescendo e promovendo mudança, a Gastromotiva depende de investimento de pessoas físicas, empresas, fundações, do trabalho de voluntários, assim como da divulgação do projeto por cada um de nós por meio de redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter.
Nossa atitude MUDA TUDO.
Para saber mais: (www.gastromotiva.org).
Para entrar em contato: gastromotiva@gastromotiva.org