Karine Vieira criou o Instituto Responsa em 2017, a partir de sua própria história de vida.

O Brasil é um dos países que mais prendem no mundo. De acordo com dados da World Prision Brief, da Universidade de Londres, o país tem uma população carcerária de 714. 899 pessoas, o equivalente a 335 em cada 100 mil habitantes.

Karine Vieira já fez parte desta estatística. A paulistana de 36 anos, filha de uma enfermeira e um advogado, entrou para o crime quando  ainda adolescente, na época da separação dos pais. Chegou a ser gerente do tráfico, até ser presa, em casa, quando já havia decidido mudar de vida.

“Acabei pagando por uma história que não era minha, mas tinha de ser. Não tem como eu falar do Responsa sem falar do meu passado. O Responsa nasceu do meu histórico de vida. Passei 15 anos da minha vida no mundo do crime, dos 14 aos 29 anos. Fiquei presa durante 6 meses, entre 2005 e 2006. Parece pouco tempo,  mas não é. Eu fui presa por tráfico e associação ao crime organizado e fui absolvida em 2006. E eu resolvi que precisava mudar para dar uma vida melhor para os meus 3 filhos (18, 10 e 4 anos). Depois que eu passei por um processo de transformação eu decidi que eu queria trabalhar com pessoas que também queriam mudar as suas vidas,” diz Karine.

” Responsa vem da palavra responsabilidade, tanto no mundo do crime como fora dele. Mas cada letra da palavra tem um significado: responsabilidade, emprego, social, participação, organização, novidade, sabedoria e atitude.

O Responsa é fellow do Instituto Humanitas360, fundado pela idealizadora do CIVI-CO, Patricia Villela Marino, para empoderar cidadãos. O Responsa funciona como uma agência de emprego para egressos do sistema prisional, acolhendo, atendendo e capacitando essa pessoas para voltarem ao mercado de trabalho.

Nós precisamos sensibilizar as empresas para que elas abram vagas para essa pessoa.

“O egresso geralmente vem parar aqui pelo boca a boca e também via Pastoral Carcerária. A partir daí a gente faz uma escuta qualificada. Eles preenchem uma ficha, e a partir dessa ficha a gente entende as habilidades dessa pessoa. Em seguida, fazemos uma capacitação de duas horas para que as pessoas comecem a fazer processos seletivos. Essa capacitação é para postura, comportamento, vestimenta, linguagem. Depois, nós precisamos sensibilizar as empresas para que elas abram vagas para essa pessoa.”

Se conseguir emprego no Brasil é considerado extremamente difícil, imagina se você estiver saindo do sistema prisional?

O Instituto Responsa acompanha o desenvolvimento do egresso na empresa por um período que vai de 6 meses a 1 ano. O monitoramento é feito por redes de whatsapp e com encontros mensais com os gestores, para ver de perto os prós e os contras de cada contratação.

“Fora isso a gente tenta ver quem tem vontade de voltar a estudar, quem tem vontade de fazer um curso de capacitação, e então a gente busca viabilizar isso. A gente identifica perfis empreendedores e cria oficinas, como lavagem a seco e conserto de celulares. A ideia é que a pessoa já saia da oficina com o kit necessário para começar a trabalhar. A gente também quer usar espaços dentro das associações em comunidades, assim a gente vai conseguir formar multiplicadores do Responsa nesses lugares“

“A gente identifica perfis empreendedores e cria oficinas”

Antes de fundar o Responsa, Karine fez faculdade de serviço social e trabalhou com outras organizações que atendiam egressos do sistema prisional, até chegar a ser coordenadora do AfroReggae.

“Quando o AfroReggae  fechou, eu senti a necessidade de fundar um projeto que tivesse a minha cara e que atendesse essas pessoas que estavam à margem da sociedade, vivendo na exclusão.”

Desde que foi fundado, em novembro de 2017, o Responsa conseguiu inserir mais de 69 pessoas em vagas fixas e mais de 200 em trabalhos temporários.  Entre as empresas parceiras, estão o Grupo Tejofran, a Porto Seguro, a Joaquina Brasil, a Mostra Internacional de Cinema e Anhembi, Civi-co, YouGreen e Yellow.

O Civi-co foi a primeira empresa a empregar um egresso do sistema prisional

“O Civi-co foi a primeira empresa a empregar um egresso nosso”, conta Karine. “A gente ainda enfrenta muitas barreiras por parte do empresariado, que se preocupa muito com a segurança. Isso a gente tenta resolver com o monitoramento. Muitas vezes o empresário acha que está fazendo um favor ao empregar um egresso, mas se eu consigo mostrar para ele resultados, eles passam a ter outros olhos para a gente.“

Karine considera fundamental estar em um lugar como o Civi-co.

“Aqui a gente se conecta com pessoas, dá visibilidade ao nosso trabalho. Além disso, os egressos aqui se sentem super reconhecidos, valorizados, um espaço em que muita gente nem podia pensar que um dia entraria.“

E quando a pergunta é como a sociedade pode ajudá-la no trabalho de reinserção de egressos no mercado de trabalho, Karine responde rapidamente:

“Dando oportunidade e não só dando trabalho. É muito importante querer conhecer as pessoas. Nós perdemos um pouco a essência do humano. Só conhecendo as histórias de vida dos egressos que as pessoas se sensibilizam. A gente precisa começar a olhar para dentro do sistema prisional e ver que ali dentro existem pessoas, não somente números. “

Você também pode mudar a realidade de uma pessoa que passou pelo sistema prisional sendo voluntário do Responsa. É só enviar um e-mail para contato@responsa.pro ou falar diretamente com o Samuel no número: +55 11 95291-4778

 

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