Um grupo de Whatsapp, uma conta no Instagram e muita vontade de mudar tudo. Foi assim que nasceu o grupo ajude_de_casa_rj, que nos últimos meses conseguiu ajudar mais de 80 hospitais/clínicas públicos no estado do Rio e mais de 15 secretarias de saúde municipais. Os números impressionam e provam que o trabalho de formiguinha move montanhas.
De abril para cá, o grupo produziu 30.000 protetores faciais de acetato, quase 20.000 máscaras de TNT, 1.450 jalecos médicos e cerca de 1.000 máscaras de tecido, sem falar nas doações de cestas básicas, roupas e utilitários domésticos.
Protetores faciais: como esse mutirão do bem começou
A inspiração veio do projeto da escola Avenues, em São Paulo (veja a matéria aqui no site), que uniu alunos, pais e professores para produzir protetores faciais de acetato.
Diante da iniciativa, 3 amigas se uniram para reproduzir a ação paulista no Rio: a administradora de empresas Marcia Andrade, mãe de um aluno da Avenues, que hoje mora em São Paulo, a advogada Paula Lima e a engenheira Simone Baffini.
“A Marcia foi quem sacudiu todo mundo do sofá e ficou com toda a parte de logística. A Simone virou a nossa diretora financeira e eu assumi a coordenação das costureiras e da conta de Instagram @ajude_de_casa_rj. Mas todo mundo fez, e faz, de tudo um pouco”, conta Paula Lima.
A primeira meta do projeto era produzir 4.000 protetores para serem doados a instituições de saúde públicas no Rio.
“No dia primeiro de abril colocamos o primeiro pedido de doações em um grupo de amigos no Whatsapp. No dia 2, a gente lançou a página no Instagram com a ajuda de uma amiga designer e no dia 3 já tínhamos R$11.000 na conta. Foi uma das primeiras ações desse tipo no Rio e as pessoas foram muito generosas”, conta Paula.
“O pessoal ligado ao projeto da Avenues passou para a gente todo o know-how de onde comprar material, como produzir os protetores e isso ajudou muito.”
Ela diz que o material foi todo comprado em São Paulo, por terem encontrado uma entrega mais ágil e que uma transportadora colaborou fazendo o frete de graça para o Rio.
3 dias depois da primeira compra, o material chegou de São Paulo e foi distribuído para voluntários começarem a produzir os protetores faciais.
“O material pronto era entregue para pessoas que levavam nosso trabalho para as instituições. Orgãos como a Secretaria de Saúde do Estado do Rio, do município, a Secretaria de Administração Penitenciária, a Vigilância Sanitária, Conleste e muitos outros também fizeram ponte para essa ajuda chegar aos necessitados. Nossa meta de protetores faciais foi aumentando e produzimos 30.000”, diz a advogada.
Máscaras de TNT
O grupo, que com o passar dos dias só ganhava força, decidiu produzir também máscaras caseiras de TNT. O primeiro passo foi fazer com a ajuda de costureiras voluntárias e depois passaram a contratar costureiras profissionais. Um grupo de voluntárias cortava o material, que era entregue em forma de quadrado às profissionais.
“Dessa forma a gente ajudava também essas mulheres que estavam sem trabalho e conseguia uma produção mais ágil. Nós compramos 2.500 metros de TNT e também recebemos muitas doações de gente que tinha esse tecido não tecido em casa. Chegamos a produzir 16.500 máscaras e a comprar outras 3.000 profissionais”.
Capotes de TNT
Mais dinheiro entrando e já com muitos protetores faciais e máscaras distribuídos, o grupo partiu para produzir capotes, aqueles jalecos médicos compridos que protegem todo o corpo de médicos e enfermeiros. “Uma modelista amiga fez o protótipo e um profissional cortou 2.900 metros de TNT que foram entregues nas casas das costureiras. Essa voluntaria também doou todo o material como linha e elástico.”
Paula conta que os 1.450 capotes produzidos foram doados ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra, zona oeste do Rio, que tem uma demanda de 7.000 capotes por mês.
“O capote é mais caro que as máscaras e os protetores. A gente precisa de pelo menos R$10.000 para produzir 1.000 capotes. O TNT em si é barato, mas a mão de obra sai caro. A gente gostaria de seguir produzindo, porque essa demanda não diminui, mas com 3 meses de pandemia as doações começam a reduzir.”
Máscara de tecido e um bazar
Para manter os voluntários produzindo e se sentindo mais engajados na campanha do que somente doando dinheiro, o ajude_de_casa_rj fez também quase 1.000 máscaras de tricoline.
“Esse trabalho manual é muito terapêutico, ajuda muito as pessoas eu estão em quarentena em casa a não caírem em depressão. Elas participam de cada vitória nossa.”
Outra iniciativa do ajude_de_ casa_rj foi organizar um bazar, chamado Desapego do Ajude.
“A gente montou um QG numa garagem para receber as doações, que foram muitas: roupas, eletrodomésticos, material de cama mesa e banho, utensílios de casa, cozinha, decoração… Nós recebemos de tudo, até um forno industrial e uma televisão. ”
A maior parte do material arrecadado foi doado em duas comunidades do Rio: Turano, no Rio Comprido, e Tuiuti, em São Cristovão (para seguir no Instagram: @euamosaocristovao e @turanocontraocoronavirus) e para a Casa de Apoio à Criança com Câncer.
Paula conta que o ajude_de_casa chegou a ter 70 voluntários trabalhando ao mesmo tempo: “a grande maioria mulheres e eu destaco a nossa voluntária mais velha, que tem 95 anos, a dona Blandina. Ela é uma formiguinha trabalhadeira e virou nossa garota propaganda”.
Alguns itens doados no Bazar, ainda com etiquetas de loja, foram separados para um leilão, como forma de arrecadar mais dinheiro: “a gente precisa sempre se reinventar para seguir ajudando.”
A nova meta: ajudar a combater a fome
“O que nos sentimos agora é que a questão da fome é um imenso desafio. E como dizia o sociólogo Betinho, quem tem fome, tem pressa. Com as últimas doações recebidas nós compramos 200 cestas básicas, 100 para cada uma dessas comunidades. Isso foi muito importante e essas pessoas precisam de muito mais. Tem gente realmente passando fome”, lamenta Paula Lima.
Vitória
“A gente jamais imaginou, nem nos nossos melhores sonhos, que a gente conseguiria tudo isso. Muita gente que ajudou a gente nem conhecia, foram pessoas que vieram nos ajudar pelo Instagram de várias partes do Brasil. Teve gente que doou R$ 5.000, teve gente que doou R$ 20,00.”
O que muda tudo
“A minha forma de olhar esse momento que nós estamos vivendo mudou quando eu decidi ajudar. Quando eu sacudi a minha poeira e parti para ajudar. Eu acho que a solidariedade muda tudo, que o coletivo muda tudo, que o trabalho em equipe muda tudo, que trabalhar por um objetivo comum muda tudo. A gente só conseguiu isso tudo porque a gente se uniu em torno da vontade de ajudar. O ajude_de_casa_rj é muito mais do que um grupo que produz máscaras e protetores faciais. Ele nasceu para ajudar as pessoas a ajudarem. E a gente já tem vários projetos filhotinhos pelo Brasil”, comemora.
Veja no Muda Tudo a matéria sobre a produção de protetores faciais da escola Avenues: