Por Ana Carolina Navarro, Ana Paula Cerveira, Beatriz De Cunto e Lucas Machado
Organização insere mulheres egressas do sistema prisional no mercado de trabalho
O Brasil é o terceiro país no mundo com maior taxa de mulheres encarceradas, segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). E quando chega o momento de deixar o sistema prisional, elas passam a viver o drama da busca por um lugar no mercado de trabalho.
Além da questão de gênero, elas têm de lidar com a desconfiança por terem passado pelo cárcere .
“Para mulher é tudo mais complicado porque o peso da responsabilidade quase sempre é bem maior.” Karine Vieira, CEO do Instituto Responsa, conhece bem essa realidade. Ela própria é uma egressa do sistema prisional. Karine passou 15 anos no crime e ficou presa durante 6 meses, o suficiente para ter de encarar as dificuldades de um reinício de vida.
A dura experiência a levou a criar o Responsa, em 2017, com o objetivo de inserir, manter e melhorar o processo de contratação de pessoas egressas no mercado de trabalho.
Karine conta que a maior parte das mulheres que entraram para o mundo do crime, foi por não ter outra opção financeira ou a quem recorrer: “Essas mulheres são mantenedoras do lar e quando elas saem da prisão, continuam precisando ajudar suas famílias. Elas buscam incessantemente por um espaço no mercado de trabalho”.
Com toda a dedicação da equipe do Responsa, quando a oportunidade de trabalho finalmente chega, o único impeditivo passa a ser o (a) próprio (a) candidato (a). “Só se a pessoa não quiser,” afirma Karine.
Em julho de 2018, entrou em vigor o Decreto Federal nº 9.450, que instituiu a Política Nacional de Trabalho no Sistema Prisional. A Pnat foi criada para a ampliação da oferta de vagas de trabalho e à formação profissional das pessoas presas e egressas. A iniciativa foi um avanço. Mas em 2019 apenas 20% da população prisional foi atendida por programas laborais. Neste pequeno grupo estavam pouco mais de 10 mil mulheres.
Karine conta que as empresas que empregam egressos são aquelas que já entenderam o valor da diversidade para o negócio.
Até o momento, a Responsa atendeu e capacitou mais de mil pessoas. Atuando com serviços de monitoramento, consultoria, mentoria, processos seletivos, capacitação profissional e apoio psicológico, a agência de empregos social já contabiliza 141 empregados formalmente e 14 empresas parceiras. Tanto homens quanto mulheres são direcionados a vagas nas áreas de costura, limpeza e mobilidade urbana.
Mulheres no Cárcere
Um relatório do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de junho de 2019 mostrou que das 14.475 penitenciárias distribuídas pelo país, apenas 4,67% são destinadas ao público feminino. Em 2017, das 10 penitenciárias femininas no estado de São Paulo – que juntas abrigam 31,6% das presas do País – sete estavam operando com a capacidade além do permitido.
Além do superlotação, Também em 2017 uma reportagem especial do Huffpost Brasil trouxe à tona depoimentos de detentas do Distrito Federal que, negligenciadas em seus cuidados básicos, se viram obrigadas a usar miolo de pão como absorvente íntimo.
O Infopen de 2017 revelou que que 3 a cada 4 mulheres presas dispõe de módulos de atendimento à saúde nas instalações em que estão encarceradas. O mesmo estudo revela ainda que, dentro dos atendimentos médicos realizados, apenas 11,7% foram destinados à consultas psicológicas – aspecto fundamental da reinserção social.
Muda Tudo: essa reportagem foi realizada por alunos da disciplina de Jornalismo, Cidadania e Ação Social da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, durante um laboratório de jornalismo construtivo que propôs uma imersão nas iniciativas que fazem parte do CIVI-CO, coworking que reúne uma comunidade formada por organizações e startups de impacto cívico socioambiental.
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